23 de março de 2014

da série "quem disse que é bolinho" I


eagleton, na primeira seção do livro, está tratando de vários começos de obras. o primeiro deles foi o parágrafo inicial de a passage to india, que comentei rapidamente aqui. depois de discorrer sobre ele ao longo de umas sete páginas, eagleton passa agora para o começo de macbeth.


macbeth, na direção de orson welles (1948)


First Witch When shall we three meet again?
                        In thunder, lightning, or in rain?
Second Witch When the hurly-burly's done,
                        When the battle's lost and won.
Third Witch That will be ere the set of sun.
First Witch Where the place?
Second Witch Upon the heath.
Third Witch There to meet with Macbeth.
First Witch I come, graymalkin!
Second Witch Paddock calls.
Third Witch Anon!
ALL Fair is foul, and foul is fair:
                       Hover through the fog and filthy air.

aí só posso dar risada, não? nessas horas nem as traduções a que tive acesso são de grande ajuda. a do millôr é uma adaptação, e bem distante; a da beatriz viégas-faria é em prosa e bastante estendida; a de cunha medeiros também é em prosa (feita a partir do espanhol); a da bárbara heliodora, em versos, é um pouco enxugada demais; e eis, por exemplo, a de carlos alberto nunes:

Primeira bruxa - Quando estaremos à mão
                          Com chuva, raio e trovão?
Segunda bruxa - Depois de calma a baralha
                          E vencida esta batalha.
Terceira bruxa - Hoje mesmo, então, sem falha.
Primeira bruxa - Onde?
Segunda bruxa - Da charneca ao pé.
Terceira bruxa - Para encontrarmos Macbeth
Primeira bruxa - Graymalkin, não faltarei.
Segunda bruxa - Paddock chama.
Terceira bruxa - Depressa!
Todas - São iguais o belo e o feio;
             Andemos da névoa em meio.

fiquei impressionada com uma coisa: justamente os aspectos mais peculiares que eagleton vai comentar estão ausentes, no todo ou em parte, de nossas traduções brasileiras, todas elas, aliás, grandemente meritórias. um caso a pensar, e é um tema ao qual muito provavelmente terei de voltar.

bom, mas diante disso fazer o quê? vou ter de ir, como dizem, com a cara e com a coragem - se assim não fosse, que graça teria, afinal? mas que dei risada do enrosco, dei.

atualização: agradeço a márcia paredes nunes, que gentilmente me remeteu à tradução de manuel bandeira, muito interessante, aqui.

a continuação, "da série 'quem disse que é bolinho' II", está aqui.