20 de novembro de 2019

5 de junho de 2017

9 de junho de 2014

hoje entreguei a tradução. muito legal; gostei mesmo do livro. espero que a tradução tenha saído razoável. bom proveito!

2 de junho de 2014

ah, tá

retomando a tradução depois de dois meses, eis que logo topo com mais um exemplo do peculiar humor britânico de terry eagleton: "A linguagem é, de longe, o artefato mais grandioso que a humanidade inventou em toda a sua história. Chega a superar os filmes de Mel Gibson sob este aspecto". ri, claro, mas fiquei meio surpresa.

aí paulo da luz moreira me explicou no facebook: "Ele esteve aqui em Yale para fazer uma série de palestras de casa cheia sobre o que a gente poderia chamar de fundamentalismo ateu e, conhecendo as tendências incorrigivelmente 'earnest' do público nos Estados Unidos, eu tinha a impressão que pelo menos metade da audiência achava que o Eagleton era um louco - O aluno médio de graduação aqui leva os filmes 'históricos' de Mel Gibson a sério..."



5 de abril de 2014

o que faço?




eagleton dedica nada menos que seis a oito páginas de comentários e análises a uma cantiga infantil, uma nursery rhyme, bem antiga e muito conhecida:

Baa, baa, black sheep,
Have you any wool?
Yes, sir, yes, sir,
Three bags full;

One for the master,
And one for the dame,
And one for the little boy
Who lives down the lane.

nessas horas, a questão que se coloca ao tradutor, a meu ver, é manter o foco no principal. aqui, o principal é acompanhar os aspectos destacados pelo autor. um deles, por exemplo, é o fato de que todas as palavras, salvo três (master, little e lives), são ou contam como monossílabos. outro é que são versos trocaicos, isto é, com a tônica caindo na primeira sílaba do pé. outro, além do metro muito rigoroso, um padrão de rimas bastante solto, além de toantes como dame e lane. e ainda o léxico extremamente simples e a sintaxe idem, e mais outras considerações de ordem variada. é sobre isso que eagleton discorre, e escolheu esse recitativo infantil apenas para ilustrar aspectos mais gerais.

assim, o que faço eu: um literal "béé, béé, carneiro preto"? ou, como em algumas traduções, "béé, béé, carneirinho"? isso não teria o menor sentido, pois resultaria em algo, em toda e qualquer hipótese, muito afastado dos aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos, líricos etc., que interessam ao autor.

mantenho, portanto, o poeminha no original, coloco logo abaixo dele, entre colchetes, uma tradução mais ou menos literal, com os versos separados por barras, e posso prosseguir tranquilamente com a dissecação apresentada por eagleton, reproduzindo em inglês um ou outro termo avulso em que ele vem a se deter mais demoradamente.

e não há nenhuma dúvida: há perdas em tradução, claro, sempre, evidente. mas que ao menos se escolha o que perder e o que preservar.

31 de março de 2014

"um massacre verbal"

"É um massacre verbal com requintes de crueldade": assim eagleton qualifica a célebre e estapafúrdia descrição do célebre e estapafúrdio boné de charles bovary, com que flaubert inicia seu romance.




29 de março de 2014

os diabinhos de estimação

continuando com macbeth, ato I, cena I, satanás costumava enviar a seus seguidores terrenos uns diabinhos para ficar com eles. geralmente assumiam alguma forma animal: gatos, corvos, sapos...


assim, quando a primeira bruxa diz: I come, Graymalkin, ela está respondendo ao chamado do espírito encarnado em seu gato cinzento. penso em usar: Estou indo, Gatinho.



já para "Paddock calls", que diz a segunda bruxa, Sapo está chamando fica meio comprido. penso em usar: O Sapo chama.

a terceira bruxa não nomeia seu diabinho, mas só responde a ele: Anon, "rápido", "depressa", no sentido de que já está indo, ligeirinho: Já vou!

sobre essa cena, comentada por eagleton, veja também aqui e aqui.

28 de março de 2014

da série "quem disse que é bolinho" II


imagem, aqui


retomando o ato I, cena I de macbeth, que comentei antes aqui, os pontos centrais que eagleton destaca, são:
1. que, em treze versos, não menos de três estão no interrogativo, dois deles logo de saída
2. que são três bruxas, porém compõem uma espécie de unidade, como medonha paródia da santíssima trindade
3. que chuva, raio e trovão são três fenômenos, mas que eles também geralmente comparecem como uma unidade num temporal
4. que hurly-burly também encerra um jogo de diferença e igualdade, refletindo a diferença/igualdade da trindade das bruxas
5. que perder e ganhar igualmente encerra um jogo de diferença e igualdade, tanto por relação de complementaridade (um exército ganha enquanto outro perde) quanto por oposição interna (a vitória em guerra é também uma derrota), jogo este estabelecido pelo conectivo "e"
6. que fair/ foul aparecem em definições invertidas e polarizadas
7. e por aí vai.

dunque, a tradução dos versos terá de conter necessariamente:
1. todas as interrogativas, obviamente (à diferença, p.ex., das soluções de bandeira, nunes, heliodora, viégas-faria)
2. as três bruxas, claro (millôr, em sua adaptação, dá quatro [?])
3. os três elementos, claro, também (à diferença, p.ex., das soluções de bandeira e heliodora)
4. não consegui; estou pensando em usar "lufa-lufa" e manter hurly-burly para os comentários do autor
5. os dois termos opostos, também obviamente (à diferença, p.ex., das soluções de nunes)
6. os dois termos da definição, ainda obviamente (à diferença, p.ex., das soluções de bandeira e nunes)
7. e o que mais for preciso.

aqui, quem dá a toada para a tradução é o autor com seus comentários. como a ênfase de eagleton é muito mais sobre o sentido e as diversas conotações dos versos e da cena do que sobre a métrica e as rimas, sinto-me até certo ponto justificada em não me manter demasiado presa na camisa-de-força desses nem sempre muito rigorosos pentâmetros trocaicos ou como se chame. de qualquer modo, tentarei manter sempre que possível a preferência por monossílabos, dissílabos e, no máximo, trissílabos. para os dois grandiosos versos finais, tentarei uma assonância em u, à falta de conseguir qualquer coisa remotamente similar às belíssimas consonâncias em f.

vamos ver o que sai.

veja-se outro problema aqui.

27 de março de 2014

sensação do dia


depois de umas 25 páginas do segundo capítulo, a sensação que tenho é de que eagleton é muito mais interessante comentando inícios e aberturas de obras (capítulo I) do que tentando falar de personagens (capítulo II).

a única coisa interessante até agora, neste capítulo, nada tem a ver com personagens. é uma rapidíssima menção al volo ao que ele chama de "anti-intelectualismo" do eliot.

tomara que melhore. por ora, só está conseguindo rodear, rodear o tema, operando basicamente por exclusões e caracterizações que chegam a ser quase insultuosas à inteligência do mais medíocre leitor. por exemplo:
A Grande Muralha da China é semelhante ao conceito de tristeza, no sentido de que nenhum dos dois consegue descascar uma banana.
ou:
Não há como ser virtuoso sozinho e por conta própria. A virtude não é como tricotar uma meia ou mordiscar uma cenoura. 

ninguém merece, imagino que nem os aluninhos dele.

coisas que acontecem



nada demais; simplesmente acontece: o livro passa por um processo editorial completo e, mesmo assim, sai que "O romancista setecentista Henry Fielding adora seus personagens de boa índole, como Joseph Andrews e o pároco Adams em Pamela".

aí boto observação em destaque amarelinho para a editora: "[??, deve ser em Aventuras de Joseph Andrews, não Pamela]"

isso para dizer que, sim, acredito que tradutor tem de corrigir ou assinalar, sim, algum eventual lapso ou gralha do original, quando o vê.